Analise do Album “Kalasnikov”
- Gerson José Mitroh Amaral
- May 3
- 3 min read

O Prince Solomon Kalasnikov (anteriormente Kalasnikov apenas) é um rapper, liricista e MC de renome no mundo Hip Hop Moz. É conhecido pela sua carreira solo e seu trabalho realizado com Kapacetes Azuis, também conhecido como K7’s, um supergrupo com vários outros subgrupos. Lançou o seu primeiro mixtape denominado Cobras e Largartos em 2010. Um featuring notório foi no single de Kay Real “Killah rapper” onde deixou um verso memorável, repleto de duplos, flows e esquemas rimáticos complexos.
Conceito
“Kalasnikov” e um fuzil de assalto mais popular e amplamente usado no mundo. Nos estados pró-comunistas, o AK-47 tornou-se um símbolo da revolução do Terceiro Mundo. Mas a proliferação dessa arma vai alem dos números.
O AK-47 está incluído na bandeira de Moçambique e seu brasão, um reconhecimento de que o país ganhou sua independência em grande parte através do uso efectivo de seus AK-47. Porém hoje é igualmente opressora nas mãos de vários dirigentes africanos, simbolizando poder, força e repreensão popular.
Moçambique, recentemente vive uma extrema tensão sociopolítica, resultado de muitos anos de opressão, desigualdades sociais, etc, aonde a fraude eleitoral serviu de baril de pólvora para as manifestações que seguiram.
O “Kalashnikov” serve como uma metáfora para resistência em forma de musica num contexto de luta por justiça e Igualdade. Um álbum de Hip Hop consciente, apelando atenção dos seus ouvintes para os problemas socias que continuam a fustigar o povo moçambicano (“Combatente”, “Kalasnikov”).
Embora possui temas para reflexão, o álbum contém temas motivacionais (“Ainda dá para sorrir”). O que torna este álbum dope é habilidade de storytelling, liricismo introspectivo e spoken word que Kalasnikov traz nesse projecto para se conectar com os ouvintes, como por exemplo abordar aspectos como corrupção (“Presidente” e “O oprimido é o opressor”) ou temas Bíblicos (Jezebel)
Produção
A produção neste álbum é de boa qualidade, trazendo elementos de Boom Bap, Jazz e R&B. São notórios os fortes kicks e instrumentos como piano, saxofone, guitarras e soul samples. As instrumentais são similares aos de 7Kruzes, Baba-X, Billy Ray e até o mesmo 9th Wonder. O álbum contou com a trabalho exclusivo de Dexter the Kooker.
As melhores faixas deste álbum do meu ponto de vista são:
1. Kalasnikov: O single promocional do álbum que faz uma descrição sobre as táticas usadas pelo ocidente para subjugar os povos africanos. Corrompem os fracos, matam os lideres revolucionários e usam a guerra como forma de oprimir as massas e explorar riquezas. O Prince quer libertar nos das correntes do neocolonialismo, manipulação massiva das Mídias e entre outros aspectos, através conscientização, de maneira a mudar o nosso comportamento.
2. Ainda dá para sorrir: Um track motivacional que conta com os MC’s Zagalote, Puzzle e Xixel Langa no coro, buscando trazer energias positivas para os ouvintes. Cada rapper traz cenários característicos de dor e sofrimento que as desigualdades sociais trazem. O Puzzle deixa um verso memorável contendo esquemas rimáticos absurdos. Props para todos.
3. A caminho do clássico: Um track em forma de autobiografia sobre a vida e início da carreira do Kalasnikov. Este track é um exemplo da habilidade de storytelling que o Kalasnikov traz em maioria das faixas.
Ele fala sobre os dois casamentos falhados da sua mãe, mais tarde a sua introdução ao movimento do Hip Hop em 97 que com o passar do tempo veio a conhecer o falecido Craft (RIP) que o apresentou ao lendário Baba-X The Genius, uma peça chave para fundação do supergrupo Kapacetes azuis.
Após um freestyle sobre um beat de 9th Wonder, Baba-X viu o potencial do liricista e decidiu ser mentor do mesmo. Com a Morte do Craft, Kalasnikov julgava-se descartável para o Baba-X o que provou a ser um engano, mas o início de uma parceria que culminou no sucesso do veterano liricista. Rest in Peace para o Craft, pois sem ele, se calhar não teríamos o Kalash nas ruas a cuspir fire.
Morra por isto: Um posse cut que conta com a participação de dois pioneiros no rap, Duas Caras e A-Small que contribuíram para o uso de wordplay mais complexo (“Vamos embora” foi uma das primeiras músicas a usar o duplo sentido e rimas cruzadas). O track exala o amor que os 3 rappers têm pelo movimento e arte do rap. O track é repleto de metáforas, duplos sentidos e flows
Nota Final
Este álbum merece uma nota 9. Comercial, na minha opinião, não é uma grande track. Por isso deduzi um 1 ponto. Mas o álbum em seu todo sem essa track, na minha opinião, é de alta qualidade. Kalasnikov mostrou nos porque continua a ser um dos melhores liricistas que o rap moz viu nascer com o seu wordplay e conteúdo progressivo. Dexter the Kooker troce uma boa produção que complementou de certa forma o conceito do álbum.
Escrito por Eben Maiopué AKA Webex






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