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Análise do álbum “Babalaze”

  • Writer: Gerson José Mitroh Amaral
    Gerson José Mitroh Amaral
  • Dec 4, 2024
  • 6 min read

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Com o crescimento das desigualdades sociais na época da década 70 para 80, surgem rappers que abordavam questões politicas de modo a mover a comunidade negra que vivia (ainda vivem até os dias actuais) em “housing projects” ou seja zonas rurais, em condições deploráveis, onde o tratamento dado à mesma era (e ainda é) quase desumano, resultando na exclusão social obrigando os mesmo a se expressar.


MC’s eram pillares desta abordagem, questionando tudo em sua volta, colocando pressão no sistema politico para mudar de atitude em torno de questões como racismo, brutalidade policial, pobreza extrema, encarcerações massivas e entre outros problemas.


Azagaia é um dos rappers mais influentes na história do rap Moz. Graças ao seu estilo contundente, forte intervenção social e acima de tudo sua coragem tornou lhe um dos pilares do Hip Hop moz de todos os tempos. Não se pode falar de rap politico ou de intervenção social sem mencionar o Mano Azagaia.


 A suas mensagens reflectem a dura realidade vivida pelos moçambicanos desde a sua independência ate os dias actuais. Maioria dos rappers do game desde Duas Caras, Hernani, Sleam Nigga, Kloro, Shackal, A-small reconhecem o como uma lenda. Mas não e só pelo seu posicionamento politico que lhe rendeu louvores.


Azagaia também foi um liricista NATO (Get it?). Seu delivery, flow e cadence eram elementos fortes da sua identidade e performance influenciando outros rappers a se reinventarem de modo a cativar os seus ouvintes, mas acima de tudo o seu “pen game” ou escrita era de grande calibre, com jogo de palavras, metáforas, esquemas rimáticos, habilidade de contar histórias, hipérboles, pleonasmos e punchlines muito criativos com intuito de fazer “bragadoccio” (Mortal Kombat, Liricismo do vândalo, camisola 10) ou mesmo para transmitir suas mensagens sócio políticas com humor entrelaçado (Só Dever, O ciclo de censura).

 

 

 

Ele também participou em um dos primeiros comboios da história de rap moz (The Last Meal Remix de Armadu) e teve uma performance memorável.

Em termos de jogo de palavras, é de notar que, Azagaia é um mestre no uso de palavras homófonas, homónimas e homógrafas de modo a criar duplos e até triplos sentidos, uma técnica vista em vários rappers.

Ele é um dos melhores rappers da história do rap lusófono sendo reconhecido por MC’s em vários países.



Conceito


“Babalaze” significa ressaca. Vejam quão clever foi o Mano Azagaia. Ele usa este termo como uma metáfora para tirar as pessoas de estado de embriaguez e de modo a sentirem a ressaca da sua intervenção social. Aqui não há petisco, não há aspirina, não há café ou nenhum analgésico que te vai aliviar dessa triste realidade que vives dia após dia em Moz. Tens que sentir a dor para poder te libertar desse sofrimento. Uma metáfora estendida em todo álbum. 


Nos dias actuais muito jovens estão, gradualmente, a se tornar ou já são alcoólatras pois a luta pela sobrevivência atingiu níveis críticos, que provocou um degaste psicológico, tornando a bebedeira como solução mais viável, pois a busca pela gratificação instantânea tornou-se o centro da sua vida.

Nenhum jovem é isento dessa prática pois já o fizemos várias vezes. O regime procura colocar uma venda sobre os nossos olhos usando álcool e estupefacientes para manter nos num estado de embriaguez sem fim. Azagaia quer nos mostrar a verdade da forma mais crua possível de maneira a ficarmos lúcidos (Bebam e consomem vossos ways com prudência, senão já sabes).


Azagaia não te oferece nenhum sonho, narrativa de final feliz, ou visão de ostentação, mas sim ele deposita um “Cheque de realidade” na sua mente bancaria de modo a te fazer “levantar” e ir ao combate pelos direitos.


És obrigado a tomar uma atitude pois, se não o fizeres, serás preso pela sua própria decisão. Azagaia mostra nos quão importante é a politica nas nossas vidas.


Politica controla tudo. Mesmo se achas que não és politico, esse álbum ensina-te a buscar a politica, pois ela afecta todo aparelho do estado, educação (“O ciclo de censura”), saúde (“Labrintos” e “Vamos falar sobre sexo”) e o povo (“mentiras da verdade” e “a verdade”).


O álbum também transmite mensagens sobre as raízes e regras de Hip Hop através de boas barras entrelaçados por metáforas, trocadilhos, punchlines e altos flows (“Ate o fim/Cotonete militares”), conflitos amorosos (Ni ku ta fonela), heroismo e patriotismo (Super Azgaia).


A sua habilidade de contar histórias é notório no track “labirinto” usando imagens vívidas e precisas sobre o sexo e suas consequências quando não planificado. No intro, ele declama um poema contra o governo descrevendo a sua má liderança que se agravou nos tempos actuais. Parece profético nas suas letras, mas não era. Os mesmos problemas estão patentes nos dias actuais. A corrupção já atingiu níveis alarmantes destruindo a democracia. O desemprego em Moz aumentou significativamente.



Produção


Azagaia é um rapper de linhagem semelhante de grandes rappers de intervenção social com KRS-ONE, Nas e grupos como Public Enemy, Wu Tang Clan, Boot Camp Click, Ras Kass Immortal technique, Dead Prez.


Azagaia é um forte defensor da Identidade própria o que lhe influencia a usar ritmos da música moçambicana como forma de valorizar a cultura.

A produção caracteriza-se pelo uso de instrumentais acústicos, uso de piano, guitarras semelhantes ao estilo Jazz rap, boom bap, usando sampling techniques muito dopes reminiscentes de DJ premier, 9th wonder, J Dilla, Alchemist e Pete Rock.


Este álbum tem uma qualidade sonora boa para sua época, visto que a tecnologia usada não se compara aos dias actuais. Mas ao mesmo tempo, mantém um “raw feel” que Hip hop heads que curtem esse sound vão abanar a cabeça até quebrar o pescoço. As melhores musicas deste álbum são:

 

 

-As mentiras da Verdade

-A Verdade

- A marcha


Melhores Musicas do Album:


As mentiras da verdade: Este é um dos melhores tracks que o Azagaia alguma vez fez. Para quem cresceu naquele time de 2000 em diante, sabemos como isto bateu no estereo. Azagaia descreve como a mídia manipula o povo, trazendo verdades cruéis sobre o regime autoritário, descascando a corrupção (seja ela sistemática ou mesmo institucional), o neocolonialismo, assassinatos que corroem o país, eis o coro “Cuidado com as mentiras da verdade”. O track “as mentiras” tem uma mensagem similar.  

A nossa própria história foi manipulada para controlar o povo. Azagaia chama a nossa atenção para esses factos irrefutáveis de modo a pesquisarmos e ficarmos mais espertos. Lembrem-se: Conhecimento é poder, esse mesmo poder faz te compreender tudo e torna-se te sábio. O governo não quer isso. Na verdade, quando mostras que sabes, serás uma ameaça a qualquer pessoa. 


A Verdade

Nessa track, Azagaia faz nos perceber que o capitalismo e culturas introduzidos pelo ocidente são formas de nos controlar. Os programas televisivos promovem o que não é nosso criando uma falsa identidade nas pessoas. O regime não prioriza a educação de modo a um dia explorar os nossos próprios recursos. É preciso buscar a autonomia de modo reaver a economia, a politica, valores morais e éticos. Só assim podemos nos libertar.


A marcha

Esta música é o culminar de todas as mensagens que o Azagaia já transmitiu: Retirar todo aquele que não tem boas intenções com o povo e estabelecer a democracia. A mensagem é dirigida para os dirigentes que usurpam o poder do povo. A equidade social é a finalidade de tudo isto. É preciso destruir de modo a reerguer uma nova nação, e não falo de vandalismo o terrorismo urbano. Só assim teremos a libertação plena.

 

Nota Final


Merece uma nota 10. Babalaze é um dos melhores álbuns na historia de Hip Hop Moz. Em termos de intervenção social e Liricismo progressivo o mesmo tem que entrar na cripta de rap Moz. É também marcada pela primeira colaboração entre um rapper moçambicano e português (Valete).

 O seu impacto é monumental pois até os dias actuais o álbum serve de espelho para problemas sócio políticos que o país enfrenta. As mesmas letras são estudadas por académicos, economistas, filósofos (Severino Nguenha) e até especialistas em assuntos africanos (a ironia, não acham, assuntos africanos).A sua versatilidade no álbum é de louvar, pois consegue cantar e reppar muito bem.

O Azagaia antes da sua morte já havia transcendido o Hip Hop moz, tornando-se um ícone e um símbolo de unidade, democracia, perseverança, patriotismo liderança e um defensor dos direitos humanos e as manifestações que são realizadas são resultado do impacto deste álbum e os outros projectos e tracks que ele fez, mas acima de tudo o desgate que o governo criou no seu povo. Muitos fazem intervenção social no rap moz, mas poucos podem replicar os feitos do Mano Azagaia.

O seu legado reflecte-se em rappers como Duas Caras, Nikotina KF, Presságio, Hernani, Smoller, Chamboco MC, Flash Enccy, Legacy, Classica la família, Dice, Kay Real, Ray Breka, K9 e outros rappers que já fizeram criticas sobre a politica em Moz. Que descance em paz Mano Azagaia. POVO NO PODER.


Escrito por King Webex e ClassiQMitroh

 
 
 

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